quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
sábado, 18 de janeiro de 2014
Educação no Hospital:
Em
1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional deu início à
formalização do funcionamento das classes hospitalares, determinando aos
governos "garantir atendimento educacional especializado gratuito aos
alunos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular".
Em
2001, o Conselho Nacional de Educação, no artigo 13º da Resolução nº 2, tratou
da obrigatoriedade do sistema e utilizou, pela primeira vez, a nomenclatura
"classe hospitalar". Desde então, ficou definido que "os
sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem
organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de
frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação
hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em
domicílio".
Com
base nas regras anteriores, a Secretaria de Educação Especial do MEC elaborou
em 2002 os termos reguladores que detalham o trabalho dentro das unidades de
Saúde. Cabe aos estados e municípios adaptar essa legislação nacional e traçar
orientações específicas para cada rede de ensino
Além
de permitir que o aluno internado não perca tempo nos estudos e continue
acompanhando o currículo de sua escola, as atividades nas classes hospitalares
são apontadas por estudos como aliadas da recuperação clínica dos estudantes.
Uma pesquisa conduzida pela professora Izabel Cristina Silva Moura, do
Instituto Helena Antipoff, vinculado à Secretaria Municipal de Educação
do Rio de Janeiro, acompanhou 50 crianças por um mês em três hospitais
diferentes da cidade. Ela observou que o grupo que assistia às aulas teve
níveis de estresse menores do que os que não passavam pelo atendimento, de
acordo com uma escala especial para esse tipo de análise.
Informalmente,
essa também é uma constatação diária das educadoras que trabalham com jovens
doentes. Em 2000, conta a professora Rosemary Hilário, do Hospital do Câncer, a
prefeitura de São Paulo deu férias coletivas para todos os docentes, inclusive
os que não atuavam nas unidades regulares. Até então, a classe de lá ficava
aberta nas férias. Durante o recesso, os médicos que cuidavam dos estudantes
internados relataram que as crianças usaram o dobro de analgésicos. "E,
quando eram perguntadas sobre as dores, elas não sabiam responder",
lembra. "Achamos que isso foi causado pelo ócio. Os alunos precisam se
ocupar, esquecer que estão numa situação delicada", diz. Desde então, a
classe fica aberta o ano todo, com esquema de revezamento entre os professores
no período de festas
Na
prática, é a equipe médica que deve acionar as secretarias de Educação assim
que um estudante da rede pública dá entrada com alguma doença severa (para
os oriundos da particular, é a própria escola que deve providenciar o
serviço). Em alguns estados e municípios, já existe inclusive um quadro de
docentes previamente concursados e preparados para a função, e é junto a esses
órgãos que interessados no emprego devem procurar orientações. "Cabe aos
governos locais oferecer a mão -de- obra e as capacitações necessárias. Tudo
para que o aluno se atrase o mínimo possível no ritmo de sua turma
original", diz Martinha Dutra dos Santos, coordenadora-geral
da Secretaria de Educação Especial do MEC.
Apesar
de ser chamada tecnicamente de classe, a aula é individual, nos leitos ou em
salas cedidas pela unidade de Saúde. Diferentemente de uma escola regular (onde
é possível fazer atividades de longa duração), cada tarefa precisa ter início,
meio e fim no mesmo dia. "É um ritmo estranho. Eu posso planejar tudo hoje
e, amanhã, o estudante recebe alta. Daí eu tenho de fazer coisas novas para
outra criança que acabou de chegar", conta a professora Geane Yada, do
Hospital Darcy Vargas, em São Paulo.
A
carga horária também é diferente das escolas, claro. O educador pode iniciar
uma conversa e, em instantes, ter de parar devido a uma indisposição. O
indicado é que o aluno consiga ter o mesmo conteúdo e a mesma carga horária da
escola. Mas, com o sobe –e -desce do tratamento, isso nem sempre é possível.
Os
especialistas alegam que as experiências em curso nem sempre ocorrem num
contexto ideal. "Há o déficit de profissionais para atuar do 6º ao 9º ano.
E, em muitos lugares, o voluntário ainda atua no lugar do educador", diz
Eneida Simões da Fonseca, professora do Departamento de Estudos em Educação
Inclusiva e Continuada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Sim, a
escola de origem precisa dar apoio aos professores hospitalares. Assim que um
estudante chega para tratamento, o titular da classe hospitalar deve chamar a
família e o futuro aluno para conversar sobre sua situação. Normalmente, um
coordenador pedagógico articula essa fase. Em seguida, o docente entra em
contato com a escola para solicitar o currículo que a criança seguiria e também
as atividades já realizadas. Cabe à unidade de ensino encaminhar todas as
tarefas previstas para que o aluno faça em sua internação - inclusive as
provas, que serão devolvidas para a correção pelo educador da turma regular.
A
professora Célia Wiczneski, coordenadora pedagógica do Hospital do Trabalhador,
em Curitiba, conta que essa relação não é fácil e, como já aconteceu, a escola
muitas vezes nem sabe que um estudante adoeceu. "Hoje é mais fácil
conversar. Mas, no início, eu precisei bater o pé. E, quando não tinha solução,
ligava para a Secretaria de Educação e contava o que estava acontecendo."
Foi com tanto empenho que garantiu a continuidade nos estudos de vários jovens
como Felipe Eduardo Alves da Silva, 9 anos, que está na 4ª série e sofre de
osteomielite (infecção óssea) e precisa de internações sucessivas
O MEC
sugere articular a programação de atendimento em dois momentos. No primeiro, o
docente trabalha com os conteúdos definidos num currículo próprio, geral, que
tem por base os Parâmetros Curriculares Nacionais. É
para evitar atrasos em caso de demora no envio dos materiais pela escola
de origem", explica Rosemary Hilário, coordenadora do Hospital do Câncer.
No segundo, já de posse da papelada, a equipe do hospital adapta o trabalho
pedagógico de acordo com o histórico do aluno, muitas vezes lançando mão de uma
avaliação inicial.
Uma
articulação especial é necessária quando o estudante apresenta um quadro
clínico que requer idas e vindas constantes. É o caso de Eula Carla de Lima, 12
anos. Ela está na 6ª série, sofre com displasia (anomalia) na tíbia esquerda e
precisa passar por cirurgias frequentes, também no Hospital do Trabalhador.
Para ela, o ano escolar acontece simultaneamente na unidade regular em que
estava matriculada e no hospital.
Atualmente,
já existem até cursos de especialização para ajudar os professores a enfrentar
e se adaptar às situações de morte iminente. Enquanto esta reportagem estava
sendo feita, uma aluna do Hospital Darcy Vargas faleceu. Para Rosemary Hilário,
coordenadora do Hospital do Câncer, são coisas que acontecem. "Temos de
encarar da mesma forma que faríamos em uma turma regular", argumenta. "E,
na hora que os familiares chegam para conversar com você, não podemos esquecer
que não somos psicólogos para dar orientações. A melhor coisa é ouvir."
A
volta para a escola precisa ser pensada com antecedência. Deve-se levar em
conta eventuais adaptações estruturais necessárias, como a construção de rampas
para os jovens que passam a usar cadeira de rodas. A montagem bem feita de uma
pasta ou arquivo, com toda a documentação sobre o período de internação, também
é essencial. Devem ser reunidos os exercícios feitos, os exames aplicados e os
relatórios com a carga horária total do atendimento, os conteúdos abordados e
as principais dificuldades encontradas, inclusive com as observações feitas
pelo docente.
A
sensibilização da comunidade escolar também é essencial e ajuda a evitar
comentários maldosos. Como contam os especialistas, a manutenção do vínculo com
a unidade de ensino durante o período de afastamento é a melhor arma contra os
problemas, já que todos estão cientes do processo.
A
aplicação de provas para medir o nível do aluno em seu retorno não é defendida
pelo MEC. O ideal, para o órgão, é que a equipe pedagógica estude os materiais
enviados pelo hospital para chegar a um diagnóstico.
Texto: Bianca Bibiano
http://educarparacrescer.abril.com.br/politica-publica/classe-hospital
Em
1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional deu início à
formalização do funcionamento das classes hospitalares, determinando aos
governos "garantir atendimento educacional especializado gratuito aos
alunos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular".
Em
2001, o Conselho Nacional de Educação, no artigo 13º da Resolução nº 2, tratou
da obrigatoriedade do sistema e utilizou, pela primeira vez, a nomenclatura
"classe hospitalar". Desde então, ficou definido que "os
sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem
organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de
frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação
hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em
domicílio".
Com
base nas regras anteriores, a Secretaria de Educação Especial do MEC elaborou
em 2002 os termos reguladores que detalham o trabalho dentro das unidades de
Saúde. Cabe aos estados e municípios adaptar essa legislação nacional e traçar
orientações específicas para cada rede de ensino
Além
de permitir que o aluno internado não perca tempo nos estudos e continue
acompanhando o currículo de sua escola, as atividades nas classes hospitalares
são apontadas por estudos como aliadas da recuperação clínica dos estudantes.
Uma pesquisa conduzida pela professora Izabel Cristina Silva Moura, do
Instituto Helena Antipoff, vinculado à Secretaria Municipal de Educação
do Rio de Janeiro, acompanhou 50 crianças por um mês em três hospitais
diferentes da cidade. Ela observou que o grupo que assistia às aulas teve
níveis de estresse menores do que os que não passavam pelo atendimento, de
acordo com uma escala especial para esse tipo de análise.
Informalmente,
essa também é uma constatação diária das educadoras que trabalham com jovens
doentes. Em 2000, conta a professora Rosemary Hilário, do Hospital do Câncer, a
prefeitura de São Paulo deu férias coletivas para todos os docentes, inclusive
os que não atuavam nas unidades regulares. Até então, a classe de lá ficava
aberta nas férias. Durante o recesso, os médicos que cuidavam dos estudantes
internados relataram que as crianças usaram o dobro de analgésicos. "E,
quando eram perguntadas sobre as dores, elas não sabiam responder",
lembra. "Achamos que isso foi causado pelo ócio. Os alunos precisam se
ocupar, esquecer que estão numa situação delicada", diz. Desde então, a
classe fica aberta o ano todo, com esquema de revezamento entre os professores
no período de festas
Na
prática, é a equipe médica que deve acionar as secretarias de Educação assim
que um estudante da rede pública dá entrada com alguma doença severa (para
os oriundos da particular, é a própria escola que deve providenciar o
serviço). Em alguns estados e municípios, já existe inclusive um quadro de
docentes previamente concursados e preparados para a função, e é junto a esses
órgãos que interessados no emprego devem procurar orientações. "Cabe aos
governos locais oferecer a mão -de- obra e as capacitações necessárias. Tudo
para que o aluno se atrase o mínimo possível no ritmo de sua turma
original", diz Martinha Dutra dos Santos, coordenadora-geral
da Secretaria de Educação Especial do MEC.
Apesar
de ser chamada tecnicamente de classe, a aula é individual, nos leitos ou em
salas cedidas pela unidade de Saúde. Diferentemente de uma escola regular (onde
é possível fazer atividades de longa duração), cada tarefa precisa ter início,
meio e fim no mesmo dia. "É um ritmo estranho. Eu posso planejar tudo hoje
e, amanhã, o estudante recebe alta. Daí eu tenho de fazer coisas novas para
outra criança que acabou de chegar", conta a professora Geane Yada, do
Hospital Darcy Vargas, em São Paulo.
A
carga horária também é diferente das escolas, claro. O educador pode iniciar
uma conversa e, em instantes, ter de parar devido a uma indisposição. O
indicado é que o aluno consiga ter o mesmo conteúdo e a mesma carga horária da
escola. Mas, com o sobe –e -desce do tratamento, isso nem sempre é possível.
Os
especialistas alegam que as experiências em curso nem sempre ocorrem num
contexto ideal. "Há o déficit de profissionais para atuar do 6º ao 9º ano.
E, em muitos lugares, o voluntário ainda atua no lugar do educador", diz
Eneida Simões da Fonseca, professora do Departamento de Estudos em Educação
Inclusiva e Continuada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Sim, a
escola de origem precisa dar apoio aos professores hospitalares. Assim que um
estudante chega para tratamento, o titular da classe hospitalar deve chamar a
família e o futuro aluno para conversar sobre sua situação. Normalmente, um
coordenador pedagógico articula essa fase. Em seguida, o docente entra em
contato com a escola para solicitar o currículo que a criança seguiria e também
as atividades já realizadas. Cabe à unidade de ensino encaminhar todas as
tarefas previstas para que o aluno faça em sua internação - inclusive as
provas, que serão devolvidas para a correção pelo educador da turma regular.
A
professora Célia Wiczneski, coordenadora pedagógica do Hospital do Trabalhador,
em Curitiba, conta que essa relação não é fácil e, como já aconteceu, a escola
muitas vezes nem sabe que um estudante adoeceu. "Hoje é mais fácil
conversar. Mas, no início, eu precisei bater o pé. E, quando não tinha solução,
ligava para a Secretaria de Educação e contava o que estava acontecendo."
Foi com tanto empenho que garantiu a continuidade nos estudos de vários jovens
como Felipe Eduardo Alves da Silva, 9 anos, que está na 4ª série e sofre de
osteomielite (infecção óssea) e precisa de internações sucessivas
O MEC
sugere articular a programação de atendimento em dois momentos. No primeiro, o
docente trabalha com os conteúdos definidos num currículo próprio, geral, que
tem por base os Parâmetros Curriculares Nacionais. É
para evitar atrasos em caso de demora no envio dos materiais pela escola
de origem", explica Rosemary Hilário, coordenadora do Hospital do Câncer.
No segundo, já de posse da papelada, a equipe do hospital adapta o trabalho
pedagógico de acordo com o histórico do aluno, muitas vezes lançando mão de uma
avaliação inicial.
Uma
articulação especial é necessária quando o estudante apresenta um quadro
clínico que requer idas e vindas constantes. É o caso de Eula Carla de Lima, 12
anos. Ela está na 6ª série, sofre com displasia (anomalia) na tíbia esquerda e
precisa passar por cirurgias frequentes, também no Hospital do Trabalhador.
Para ela, o ano escolar acontece simultaneamente na unidade regular em que
estava matriculada e no hospital.
Atualmente,
já existem até cursos de especialização para ajudar os professores a enfrentar
e se adaptar às situações de morte iminente. Enquanto esta reportagem estava
sendo feita, uma aluna do Hospital Darcy Vargas faleceu. Para Rosemary Hilário,
coordenadora do Hospital do Câncer, são coisas que acontecem. "Temos de
encarar da mesma forma que faríamos em uma turma regular", argumenta. "E,
na hora que os familiares chegam para conversar com você, não podemos esquecer
que não somos psicólogos para dar orientações. A melhor coisa é ouvir."
A
volta para a escola precisa ser pensada com antecedência. Deve-se levar em
conta eventuais adaptações estruturais necessárias, como a construção de rampas
para os jovens que passam a usar cadeira de rodas. A montagem bem feita de uma
pasta ou arquivo, com toda a documentação sobre o período de internação, também
é essencial. Devem ser reunidos os exercícios feitos, os exames aplicados e os
relatórios com a carga horária total do atendimento, os conteúdos abordados e
as principais dificuldades encontradas, inclusive com as observações feitas
pelo docente.
A
sensibilização da comunidade escolar também é essencial e ajuda a evitar
comentários maldosos. Como contam os especialistas, a manutenção do vínculo com
a unidade de ensino durante o período de afastamento é a melhor arma contra os
problemas, já que todos estão cientes do processo.
A
aplicação de provas para medir o nível do aluno em seu retorno não é defendida
pelo MEC. O ideal, para o órgão, é que a equipe pedagógica estude os materiais
enviados pelo hospital para chegar a um diagnóstico.
Texto: Bianca Bibiano
http://educarparacrescer.abril.com.br/politica-publica/classe-hospital
Em
1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional deu início à
formalização do funcionamento das classes hospitalares, determinando aos
governos "garantir atendimento educacional especializado gratuito aos
alunos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular".
Em
2001, o Conselho Nacional de Educação, no artigo 13º da Resolução nº 2, tratou
da obrigatoriedade do sistema e utilizou, pela primeira vez, a nomenclatura
"classe hospitalar". Desde então, ficou definido que "os
sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem
organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de
frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação
hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em
domicílio".
Com
base nas regras anteriores, a Secretaria de Educação Especial do MEC elaborou
em 2002 os termos reguladores que detalham o trabalho dentro das unidades de
Saúde. Cabe aos estados e municípios adaptar essa legislação nacional e traçar
orientações específicas para cada rede de ensino
Além
de permitir que o aluno internado não perca tempo nos estudos e continue
acompanhando o currículo de sua escola, as atividades nas classes hospitalares
são apontadas por estudos como aliadas da recuperação clínica dos estudantes.
Uma pesquisa conduzida pela professora Izabel Cristina Silva Moura, do
Instituto Helena Antipoff, vinculado à Secretaria Municipal de Educação
do Rio de Janeiro, acompanhou 50 crianças por um mês em três hospitais
diferentes da cidade. Ela observou que o grupo que assistia às aulas teve
níveis de estresse menores do que os que não passavam pelo atendimento, de
acordo com uma escala especial para esse tipo de análise.
Informalmente,
essa também é uma constatação diária das educadoras que trabalham com jovens
doentes. Em 2000, conta a professora Rosemary Hilário, do Hospital do Câncer, a
prefeitura de São Paulo deu férias coletivas para todos os docentes, inclusive
os que não atuavam nas unidades regulares. Até então, a classe de lá ficava
aberta nas férias. Durante o recesso, os médicos que cuidavam dos estudantes
internados relataram que as crianças usaram o dobro de analgésicos. "E,
quando eram perguntadas sobre as dores, elas não sabiam responder",
lembra. "Achamos que isso foi causado pelo ócio. Os alunos precisam se
ocupar, esquecer que estão numa situação delicada", diz. Desde então, a
classe fica aberta o ano todo, com esquema de revezamento entre os professores
no período de festas
Na
prática, é a equipe médica que deve acionar as secretarias de Educação assim
que um estudante da rede pública dá entrada com alguma doença severa (para
os oriundos da particular, é a própria escola que deve providenciar o
serviço). Em alguns estados e municípios, já existe inclusive um quadro de
docentes previamente concursados e preparados para a função, e é junto a esses
órgãos que interessados no emprego devem procurar orientações. "Cabe aos
governos locais oferecer a mão -de- obra e as capacitações necessárias. Tudo
para que o aluno se atrase o mínimo possível no ritmo de sua turma
original", diz Martinha Dutra dos Santos, coordenadora-geral
da Secretaria de Educação Especial do MEC.
Apesar
de ser chamada tecnicamente de classe, a aula é individual, nos leitos ou em
salas cedidas pela unidade de Saúde. Diferentemente de uma escola regular (onde
é possível fazer atividades de longa duração), cada tarefa precisa ter início,
meio e fim no mesmo dia. "É um ritmo estranho. Eu posso planejar tudo hoje
e, amanhã, o estudante recebe alta. Daí eu tenho de fazer coisas novas para
outra criança que acabou de chegar", conta a professora Geane Yada, do
Hospital Darcy Vargas, em São Paulo.
A
carga horária também é diferente das escolas, claro. O educador pode iniciar
uma conversa e, em instantes, ter de parar devido a uma indisposição. O
indicado é que o aluno consiga ter o mesmo conteúdo e a mesma carga horária da
escola. Mas, com o sobe –e -desce do tratamento, isso nem sempre é possível.
Os
especialistas alegam que as experiências em curso nem sempre ocorrem num
contexto ideal. "Há o déficit de profissionais para atuar do 6º ao 9º ano.
E, em muitos lugares, o voluntário ainda atua no lugar do educador", diz
Eneida Simões da Fonseca, professora do Departamento de Estudos em Educação
Inclusiva e Continuada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
A
professora Célia Wiczneski, coordenadora pedagógica do Hospital do Trabalhador,
em Curitiba, conta que essa relação não é fácil e, como já aconteceu, a escola
muitas vezes nem sabe que um estudante adoeceu. "Hoje é mais fácil
conversar. Mas, no início, eu precisei bater o pé. E, quando não tinha solução,
ligava para a Secretaria de Educação e contava o que estava acontecendo."
Foi com tanto empenho que garantiu a continuidade nos estudos de vários jovens
como Felipe Eduardo Alves da Silva, 9 anos, que está na 4ª série e sofre de
osteomielite (infecção óssea) e precisa de internações sucessivas
O MEC
sugere articular a programação de atendimento em dois momentos. No primeiro, o
docente trabalha com os conteúdos definidos num currículo próprio, geral, que
tem por base os Parâmetros Curriculares Nacionais. É
para evitar atrasos em caso de demora no envio dos materiais pela escola
de origem", explica Rosemary Hilário, coordenadora do Hospital do Câncer.
No segundo, já de posse da papelada, a equipe do hospital adapta o trabalho
pedagógico de acordo com o histórico do aluno, muitas vezes lançando mão de uma
avaliação inicial.
Uma
articulação especial é necessária quando o estudante apresenta um quadro
clínico que requer idas e vindas constantes. É o caso de Eula Carla de Lima, 12
anos. Ela está na 6ª série, sofre com displasia (anomalia) na tíbia esquerda e
precisa passar por cirurgias frequentes, também no Hospital do Trabalhador.
Para ela, o ano escolar acontece simultaneamente na unidade regular em que
estava matriculada e no hospital.
Atualmente,
já existem até cursos de especialização para ajudar os professores a enfrentar
e se adaptar às situações de morte iminente. Enquanto esta reportagem estava
sendo feita, uma aluna do Hospital Darcy Vargas faleceu. Para Rosemary Hilário,
coordenadora do Hospital do Câncer, são coisas que acontecem. "Temos de
encarar da mesma forma que faríamos em uma turma regular", argumenta. "E,
na hora que os familiares chegam para conversar com você, não podemos esquecer
que não somos psicólogos para dar orientações. A melhor coisa é ouvir."
A
volta para a escola precisa ser pensada com antecedência. Deve-se levar em
conta eventuais adaptações estruturais necessárias, como a construção de rampas
para os jovens que passam a usar cadeira de rodas. A montagem bem feita de uma
pasta ou arquivo, com toda a documentação sobre o período de internação, também
é essencial. Devem ser reunidos os exercícios feitos, os exames aplicados e os
relatórios com a carga horária total do atendimento, os conteúdos abordados e
as principais dificuldades encontradas, inclusive com as observações feitas
pelo docente.
A
sensibilização da comunidade escolar também é essencial e ajuda a evitar
comentários maldosos. Como contam os especialistas, a manutenção do vínculo com
a unidade de ensino durante o período de afastamento é a melhor arma contra os
problemas, já que todos estão cientes do processo.
A
aplicação de provas para medir o nível do aluno em seu retorno não é defendida
pelo MEC. O ideal, para o órgão, é que a equipe pedagógica estude os materiais
enviados pelo hospital para chegar a um diagnóstico.
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